30.1.08

Matsuo Bashō 松尾 芭蕉

Artigo de homenagem a Matsuo Bashō no National Geographic deste mês. Aos interessados, o anúncio:



PÁG. 60 / FEVEREIRO 2008

“Cada dia é uma viagem e a própria viagem é o lar”, escreveu há mais de 300 anos o poeta Matsuo Bashô, na primeira entrada da sua obra-prima “O Caminho Estreito para o Longínquo Norte”.
Vêm-me à mente estas palavras enquanto me preparo para seguir as pegadas deste poeta, percorrendo o seu caminho – uma rota de dois mil quilómetros por ele seguidos em 1689, atravessando o Japão.

Devo confessar que a ideia é assustadora. A minha falecida amiga Helen Tanizaki, uma linguista nascida em Quioto, disse-me certa vez: “Todos os meus colegas de escola sabiam recitar de cor pelo menos um dos poemas de Bashô. Ele foi o primeiro autor que lemos com emoção.” Na actualidade, milhares de pessoas vão em peregrinação ao local de nascimento e ao túmulo santuário do autor, palmilhando troços do “Caminho de Bashô”.
Três séculos depois, a sua obra, traduzida em muitos idiomas, incluindo o português, ainda toca leitores de todo o mundo. Conhecem-se poucos pormenores sobre o início da vida de Bashô, mas pensa-se que ele terá nascido em 1644 na cidade amuralhada de Ueno, a sudeste de Quioto. O seu pai provavelmene ganhava a vida ensinando crianças a escrever. Muitos dos irmãos de Bashô tornaram-se agricultores. Bashô, contudo, tomou gosto pela literatura, talvez devido ao filho do senhor local, a quem servia. Aprendeu a arte da poesia com Kigin, um poeta de Quioto, e na adolescência foi exposto a duas influências duradouras: a poesia chinesa e os princípios do tauismo. Após a morte do seu amo, Bashô radicou-se em Quioto, praticando uma forma de poesia denominada haikai.
Na época, o primeiro verso de um haikai estava a evoluir, tornando-se ele próprio um idioma poético – haiku, cujos três breves versos sem rima pretendem captar a essência da natureza. Bashô editou o seu primeiro haiku sob vários nomes, cada um com algum significado pessoal. Perto dos seus 30 anos, mudou-se para Edo (a zona antiga de Tóquio), uma cidade criada recentemente, com grande movimento social, população em rápido crescimento, comércio robusto e oportunidades literárias. Poucos anos depois, ele já reunira o círculo de alunos e patronos que formavam aquela que viria a ser conhecida por Escola Bashô.
Em 1680, um dos seus alunos construiu uma casa para o poeta e, pouco depois, quando outro o presenteou com um tronco de uma árvore Bashô, o poeta começou a escrever sob o nome que o imortalizou. Relatos credíveis sobre a sua vida dizem que, durante esse período, ele se sentiu atormentado por dúvidas espirituais e dedicou-se ao estudo do budismo zen. Em 1682, o seu desespero aumentou quando viu a casa consumida pelas chamas, num incêndio que obliterou grande parte de Edo.
Leia o artigo completo na revista.
Texto de Howard Norman; Fotografias de Michael Yamashita

14.1.08

Yasunari Kawabata 川端 康成

Quatro anos depois de ter recebido o Prémio Nobel da Literatura, Yasunari Kawabata (o primeiro japonês a receber este prémio) morre com 73 anos depois de uma vida bastante atribulada. Nasceu no século XIX (1899), na cidade de Osaka e desde criança sonhava ser pintor mas optou por tornar-se escritor depois de ter publicado alguns contos durante o tempo em que frequentou o liceu. Ainda jovem foi marcado por acontecimentos trágicos ficando órfão com três anos. Perdeu o resto da família ainda muito novo, a avó com apenas sete anos, a irmã com nove anos e o avô com catorze. Face a estas enormes contrariedades da vida ruma para a capital japonesa onde ingressa na Universidade de Tóquio para estudar Literatura, durante este tempo forma, juntamente com Yokimitsu Riichi, um jornal de letras " Bungei Jidai" que ajudava a promover um novo movimento literário (Shinkankakuha) que, segundo Kawabata e Yokomitsu, tinha como principais preocupações a apresentação de "novas sensações" na literatura.

Kawabata começou a ganhar reconhecimento com alguns contos publicados após ter terminado o seu curso, vindo a ser finalmente aclamado em 1926 com "Izu no Odoriko" ("A Dançarina de Izu", título com que foi editado em Portugal pela Vega Editores), uma história que explorava o erotismo do amor juvenil. O seu primeiro romance foi "Yukiguni" ("Terra de Neve" também editado em Portugal pela Don Quixote), começado em 1934 e publicado gradualmente de 1935 a 1937. "Terra de Neve" é uma história de amor entre um homem da cidade de Tóquio e uma gueixa de uma povoação remota onde este encontra um refœgio do stress da sua vida citadina. Este romance colocou Kawabata imediatamente na posição de um dos escritores japoneses mais importantes e promissores, tornando-se o romance num clássico instantâneo e que é, hoje, considerado uma das suas mais importantes obras-primas.

O seu estilo de escrita distingue-se por uma linguagem suave, mais abstracta que descritiva, onde predomina a subjectividade em relação é objectividade, aproximando-se muitas vezes da prosa poética. Após o final da Segunda Guerra Mundial Kawabata continuou a publicar romances como Senbazuru, Yama no Oto ("A Casa das Belas Adormecidas" editado pela Assírio & Alvim), Utsukushisa to Kanashimi to e Koto ("Kyoto" em Portugal pela Dom Quixote). No entanto o romance que Kawabata considerava ser o seu melhor foi Meijin, publicado entre 1951 e 1954. Kawabata foi ainda presidente do Pen Club japonês por muitos anos após a guerra. Apesar de, no seu discurso de aceitação do Prémio Nobel, ter condenado a prática do suicídio, acabou por fazê-lo em 1972, dois anos após o suicídio por "seppuku" de Yukio Mishima, de quem é considerado mentor.

Fernando Ferreira