Artigo de homenagem a Matsuo Bashō no National Geographic deste mês. Aos interessados, o anúncio:
PÁG. 60 / FEVEREIRO 2008
“Cada dia é uma viagem e a própria viagem é o lar”, escreveu há mais de 300 anos o poeta Matsuo Bashô, na primeira entrada da sua obra-prima “O Caminho Estreito para o Longínquo Norte”.
Vêm-me à mente estas palavras enquanto me preparo para seguir as pegadas deste poeta, percorrendo o seu caminho – uma rota de dois mil quilómetros por ele seguidos em 1689, atravessando o Japão.
Devo confessar que a ideia é assustadora. A minha falecida amiga Helen Tanizaki, uma linguista nascida em Quioto, disse-me certa vez: “Todos os meus colegas de escola sabiam recitar de cor pelo menos um dos poemas de Bashô. Ele foi o primeiro autor que lemos com emoção.” Na actualidade, milhares de pessoas vão em peregrinação ao local de nascimento e ao túmulo santuário do autor, palmilhando troços do “Caminho de Bashô”.
Três séculos depois, a sua obra, traduzida em muitos idiomas, incluindo o português, ainda toca leitores de todo o mundo. Conhecem-se poucos pormenores sobre o início da vida de Bashô, mas pensa-se que ele terá nascido em 1644 na cidade amuralhada de Ueno, a sudeste de Quioto. O seu pai provavelmene ganhava a vida ensinando crianças a escrever. Muitos dos irmãos de Bashô tornaram-se agricultores. Bashô, contudo, tomou gosto pela literatura, talvez devido ao filho do senhor local, a quem servia. Aprendeu a arte da poesia com Kigin, um poeta de Quioto, e na adolescência foi exposto a duas influências duradouras: a poesia chinesa e os princípios do tauismo. Após a morte do seu amo, Bashô radicou-se em Quioto, praticando uma forma de poesia denominada haikai.
Na época, o primeiro verso de um haikai estava a evoluir, tornando-se ele próprio um idioma poético – haiku, cujos três breves versos sem rima pretendem captar a essência da natureza. Bashô editou o seu primeiro haiku sob vários nomes, cada um com algum significado pessoal. Perto dos seus 30 anos, mudou-se para Edo (a zona antiga de Tóquio), uma cidade criada recentemente, com grande movimento social, população em rápido crescimento, comércio robusto e oportunidades literárias. Poucos anos depois, ele já reunira o círculo de alunos e patronos que formavam aquela que viria a ser conhecida por Escola Bashô.
Em 1680, um dos seus alunos construiu uma casa para o poeta e, pouco depois, quando outro o presenteou com um tronco de uma árvore Bashô, o poeta começou a escrever sob o nome que o imortalizou. Relatos credíveis sobre a sua vida dizem que, durante esse período, ele se sentiu atormentado por dúvidas espirituais e dedicou-se ao estudo do budismo zen. Em 1682, o seu desespero aumentou quando viu a casa consumida pelas chamas, num incêndio que obliterou grande parte de Edo.
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Texto de Howard Norman; Fotografias de Michael Yamashita