Chinmoku (沈黙) ou “Silêncio” de Shusaku Endo já tinha sido editado pela Dom Quixote em Abril de 1990 na colecção Ficção Universal, traduzido a partir da versão inglesa de William Jonhson, publicado originalmente três anos depois da versão original ter sido escrita, em 1969 pela Sophia University Press em Tóquio. Esta edição da Dom Quixote, no entanto, era praticamente extinta e seria difícil aceder novamente a uma edição portuguesa do livro de Endo, não fosse a reedição de Setembro de 2010. Cara lavada, um design muito apelativo aos amantes do universo nipónico e aqui temos uma das reedições mais interessantes de literatura traduzida em Portugal. “Silêncio” de Shusaku Endo é uma obra incontornável da literatura japonesa e universal. Este tipo de introdução é bastante genérico e o valor da sua importância terá, naturalmente, que ver com o conteúdo e a sua qualidade nos mais variados parâmetros.
No entanto, quanto mais não seja pela sua popularidade no seio do cânone literário mundial, é um livro que deve existir traduzido, pelo menos! É um dos livros que mais se popularizou de Endo talvez por ser o mais conseguido do ponto de vista da reflexão à qual o autor se propõe. Para além destes aspectos, é de ter em conta o facto de que os jesuítas de “Silêncio” são portugueses, independentemente de terem sido ou não personalidades históricas reais.
A intenção do autor era confrontar o drama da evangelização no século XVII no Japão, após a Rebelião de Shimabara e o estado de espírito de um padre europeu no Japão, tendo escolhido Portugal como foco de panorama de fundo europeu. Endo quis referir Portugal apesar de Sebastião Rodrigues, a personagem principal, ter sido inspirada no italiano Giuseppe Chiara.
No entanto, quanto mais não seja pela sua popularidade no seio do cânone literário mundial, é um livro que deve existir traduzido, pelo menos! É um dos livros que mais se popularizou de Endo talvez por ser o mais conseguido do ponto de vista da reflexão à qual o autor se propõe. Para além destes aspectos, é de ter em conta o facto de que os jesuítas de “Silêncio” são portugueses, independentemente de terem sido ou não personalidades históricas reais.
A intenção do autor era confrontar o drama da evangelização no século XVII no Japão, após a Rebelião de Shimabara e o estado de espírito de um padre europeu no Japão, tendo escolhido Portugal como foco de panorama de fundo europeu. Endo quis referir Portugal apesar de Sebastião Rodrigues, a personagem principal, ter sido inspirada no italiano Giuseppe Chiara.
Fã de Graham Greene e François Mauriac, as temáticas dos livros de Endo incidem em reflexões sobre percepções maniqueístas do mundo, a noção de pecado e de redenção. Na base dessas reflexões, os livros de Endo recorrem a panoramas típicos de situações históricas com forte sentido religioso. Muitas vezes analisado como que à luz de interpretações teológicas, o autor descartou-se várias vezes do papel de teólogo ou filósofo, tentando restringir o papel da sua obra à prosa e à ficção que é. Contudo, talvez possamos aceitar a ideia de que a obra pode transcender as intenções do criador.
A breve sinopse do livro contrasta com a densidade psicológica e social da sua mensagem e talvez seja por isso que este livro tenha sido escolhido por Scorsese para a adaptação a cinema. Obras posteriores de Endo, tais como O Samurai, abordam teores semelhantes, ainda que com mais desenvolvimento na acção, uma vez que em O Samurai, Velaco (inspirado no jesuíta Valignano) se desloque pelo mundo e isso contribua também para a reflexão sobre a fé.
O jesuíta Rodrigues vai para um Japão tenebroso pregar uma fé proibida, disposto a dar a vida pelo seu credo. No entanto, é confrontado com a sua própria convicção. Perante o silêncio de Deus, a fé vacila, a consciência encena uma teatralidade perturbada e as escolhas de Rodrigues levam-nos à essência do cristianismo aquando da sua rejeição.
A capa de um sol nascente luminoso é enganadora para os leitores que descobrem neste livro um Japão medieval de contornos perturbadoramente sádicos. “Silêncio” é um livro pesado, sobre a fé e a sua necessidade, que se faz muito mais visível aquando do contacto com a miséria humana dos camponeses japoneses que viviam para pagar impostos que não poderiam suportar, sob um governo militarista desumano. Por outro lado, questiona uma fé não só cega como muda, que não se materializa, que não se transpõe para o campo da realidade como a conseguimos conceber.
A capa de um sol nascente luminoso é enganadora para os leitores que descobrem neste livro um Japão medieval de contornos perturbadoramente sádicos. “Silêncio” é um livro pesado, sobre a fé e a sua necessidade, que se faz muito mais visível aquando do contacto com a miséria humana dos camponeses japoneses que viviam para pagar impostos que não poderiam suportar, sob um governo militarista desumano. Por outro lado, questiona uma fé não só cega como muda, que não se materializa, que não se transpõe para o campo da realidade como a conseguimos conceber.
“Um dos mais belos romances do nosso tempo”, nas palavras de Graham Greene.
Sara F. Costa
2 comments:
...E não há meio de sair o filme do Scorcese... Talvez este ano! Assim espero. ☺
FELIZ ANO NOVO para a Sara e para todos no BUNGAKU!
Luís F. Afonso, NBJ, em Hakata, no Japão
Muito obrigada, Luís. Feliz 2011!
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