2.5.07

«Arco-Íris»: uma história de amor à japonesa

Banana Yoshimoto (よしもと ばなな *), a mais famosa escritora nipónica da actualidade, conta-nos a vida de uma jovem empregada de mesa que tem o melhor trabalho do mundo.




A avó, primeiro, a mãe, depois. Ela ficou sozinha no mundo e o seu mundo circunscreve-se agora a um restaurante em Tóquio, onde trabalha. O «Arco-Íris», que confecciona comida originária do Taiti, adequa-se na perfeição aos seus sonhos. Falar com os clientes é o que sempre quis. Por isso, nada mais perfeito existe. Só a mágoa pelo desaparecimento da família a vai afastar do «pote de ouro». O cansaço dá lugar ao desmaio, a perda de sentimentos vira-lhe a vida do avesso. Tudo se passa em «Arco-Íris» (Cavalo de Ferro, 2006).

O patrão dá-lhe a oportunidade de se tornar a governanta da sua casa. Temporariamente. Até que sinta forças para voltar ao restaurante, um desejo que não se cansa de lembrar ao leitor. Conhecerá a fria mulher de Takada, um cão e um gato com o mesmo nome (Tarô), doentes e tristes, e um jardim desgovernado. Pouco tempo depois da sua chegada, fica a saber que o filho que a senhora Takada vai dar à luz não é do marido. Os dois vivem um casamento de fachada. E os animais deverão, também em breve, encontrar um novo dono. Por vontade da mulher.

Eiko decide tomar a si os cuidados dos animais e do jardim, para além do trabalho relacionado com a limpeza da casa. O cão Tarô, o gato Tarô e as plantas retribuem-lhe toda a energia que necessitava para se reequilibrar emocionalmente. Ao mesmo tempo, Takada fica mais próximo, e o amor, que crescera de dia para dia, parece finalmente possível. Mas ser o epicentro do fim do casamento do patrão não é, de todo, o seu destino e, desiludida, parte à descoberta do Taiti e de outros locais paradisíacos do Pacífico. O berço do «Arco-Íris».

A eterna melancolia

«Isto é um sinal do destino. Um sinal demasiado belo para ser verdade. Fixo na memória este panorama e depois não olharei para mais nada, deixarei que as coisas sigam o seu curso, pensei, quase a rezar. Enquanto isso, de olhar fito no céu, observava aquele pequeno arco-íris que brilhava imóvel.» A jovem empregada de mesa encontrará, no Taiti, a decisão. Um cão, um gato, um homem e um restaurante pesam no outro prato da balança.

Banana Yoshimoto volta a trazer-nos um livro melancólico, de escrita cristalina e sem um pingo de transpiração, que caracteriza a literatura japonesa. Usa palavras simples para sentimentos constantes e a linguagem é realmente bela. Não será certamente a obra-prima da autora - em Portugal já editou «Kitchen» (Asa), «Adeus, Tsugumi» e «O Último Amante de Hachiko» (os dois pela Cavalo de Ferro) -, mas deve ser lido como se aprecia um quadro.

No fim, depois de o termos devorado de um trago, não teremos dúvidas para exclamar: «Sim, é de certeza um Banana Yoshimoto!»


Luís Mateus
PortugalDiário


*A escritora escreve o seu nome exclusivamente em Hiragana

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