28.12.07

Sabi 寂 - poetas representativos


藤原定家 Fukiwara no Teika
“Quando eu olho à minha volta,
Eu não vejo flores de cerejeira[1],
Nem pigmento algum vivo.
Uma cabana junto ao mar,
Numa noite de Outono.”

Há sensações dominantes que atravessam o poema e que colocam o leitor como um personagem inserida num cenário delineado pelo autor. O poema define-se por aquilo que descreve mas, sobretudo, pelo que não descreve ou pelo que descreve por ausência, por oposição ao real que procura (a ausência das flores de cerejeira, a ausência da cor). Há um sentimento de vazio e de vacuidade que é característico da poesia desta época e que se define, em termos de conceito estético por Sabi 寂.
Sabi: 錆 (deterioração) 寂(conceito estético)

Sabi寂é um ideal poético que foi amplamente promovido por Bashō (1644-1694) e seus seguidores do haiku, ainda que o termo e o conceito existam já provenha de um período muito anterior ao de Bashō. A designação de “sabi” aproxima-se de um conceito ascético medieval que combina elementos como a passagem do tempo, a solidão, a resignação e a tranquilidade e que os estudiosos têm vindo a estudar que este conceito descreve características muito próprias da cultura popular do período Edo (1600-1868). Neste tempo clássico, o sabi era usado como sinónimo ou com uma conjugação com o conceito de Wabi 侘, um conceito característico da Cerimónia do Chá japonesa e que foi posteriormente adaptado à literatura.  

Fujiwara no Toshinari (1114-1204) foi o primeiro poeta conhecido a aplicar um termo relativo ao sabi (o verbo Sabu) na crítica literária, considerando as suas conotações intimamente ligadas à ideia de solidão e desolação, apontando determinadas imagens como, por exemplo, “as algas congeladas à beira-mar” como exemplificativas desta definição.
Contudo, ao atravessar o período medieval, a ideia de sabi incidiu com mais força na ideia de desolação de tal forma que a beleza e laivo de positividade inerente pareceu desaparecer, limitando mais o leque de possibilidades conceptuais.
Esta ideia, contudo, provém de preceitos medievais budistas que encaravam a vida como uma resignação e aceitação da dor e da solidão, procurando contemplar a beleza melancólica mas também genuína da natureza humana.

[1] Em japonês, 花 (hana) significa “flor” de uma maneira genérica mas, por convenção, sabemos que sempre que surge este caracter, o autor se está a referir às sakuras (桜), ou seja, flores de cerejeira.

Sara F. Costa

1 comment:

Anonymous said...

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