Título : «O amor, a morte e as ondas»
Título em original: 死と恋と波と
Autor: Inoue Yasushi(井上靖)
Tradução em português: N/A
Escrito entre: 1950 e 1951
O «O amor, a morte e as ondas» reúne as seguintes novelas:
• «O amor, a morte e as ondas» (死と恋と波と)
• «O Jardim de pedras» (石庭)
• «O aniversário de casamento» (結婚記念日)
People fade away. Se fôssemos desaparecer alguém iria observar o nosso desaparecimento? Se deixássemos de amar alguém iria observar a nossa “desaparição"?
Yasushi Inoue nos remete novamente ao seu estilo insinuante – minucioso, através de um tríptico, que parece revelar-se tal como em romances policiais.
Construídas como mini romances, as três novelas seguem a mesma linha narrativa, acabando em oposição às expectativas iniciais. Bastante pertinentes, nos falam sobre as perspectivas perante a vida, o amor ou «fora do amor», a redenção através da incidência ou da intuição do amor.
Em «O aniversário de casamento» se constrói o primeiro discurso das decepções. Dois anos após a morte da mulher, Karaki não consegue pensar em um segundo casamento. É normal, a maioria diria; mas isso não acontece por ele ser o homem de um único amor, como nos ‘quadros’ ideais. Através de um casamento – e aqui o pensamento conduz, involuntariamente, a uma má escolha – Karaki sente que uma futura mulher ‘sem juízo’, ao ser gastadora, poderia desonrar a imagem da primeira esposa. Desta maneira, o marido justifica o seu isolamento no universo de um primeiro casamento nada perfeito, mas cujo conforto psicológico, especialmente com a morte da esposa, faz preferir a sua avareza ao invés de uma outra ‘solidão’ a dois.
Tudo emerge lento, outonal, entre sons de tigelas, vento cortante, pensões, comida tradicional e tatami. No quadro de um Japão do século passado, o casal parece ter surgido como a maioria, convencional, da mesma forma levando também a sua pequena vida no seu pequeno apartamento na periferia da grande cidade.
As personagens femininas são construídas, aparentemente, como um reflexo das masculinas, surgindo implicitamente da narrativa textual, em tons definitórios para a vida do carácter masculino.
As mulheres de Inoue são subtis e determinantes, são retratos que influenciam e marcam a vida dos homens que se encontram ‘por perto’. Não são eles ‘os amados’, e ao seu turno, de alguma forma natural, não são elas ‘as amadas’, mas apenas respeitadas, subjectivamente, pelas suas ‘qualidades’. Talvez, o aspecto mais interessante que estas mulheres têm em comum é o facto de chegarem a ser amadas apenas depois de terem saído da vida de cada um dos homens: seja pela morte, seja pela ausência física ou simplesmente tornando-se presença. As três novelas vêm ressaltando um aspecto comum: a solidão. Como consequência da perda do outro – em facto uma redenominação duma solidão de dois – o sentimento torna-se além de cíclico, omnipresente.
As ‘almas feridas’ das personagens e o inteiro quadro, conseguem transmitir o “afogamento”, já insuportável e perpétuo, da impossibilidade quase perversa, de intervir no próprio destino, aceitando o vazio existencial.
O jardim tradicional japonês, as águas termais de Hakone, o templo Saihōji, Kyōto ou Tōkyō passam a ser apenas instrumentos do turismo sentimental.
Ao mesmo tempo este esqueleto topográfico, visual, eufónico e cultural é o que mantêm o quadro lírico.
Afinal, olhar para a página vazia que está em sua frente é como olhar-se no espelho, forçando-se a se ver.
Iolanda Vasile
1 comment:
Ola!
Tomei a liberdade de linkar o blog no meu.
Obrigado!
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