13.1.10

Fuzil de caça - Inoue Yasushi(井上靖)


Título : «A arma de caça»


Título em original: 猟銃 (Ryoju)


Autor: Inoue Yasushi(井上靖)


Tradução em português(Brasil): ´Fuzil de caça´


Escrito em: 1949



O que abençoa o amor? Quando ele pára de ser puro, quando passa de um “estado normal” para um vício da natureza, quando começa a dependência do outro, esquecendo-se dos deveres sociais, das obrigações familiares e das leis de ser?


Quem define tudo isto e com que direito; e especialmente, como uma arma de caça pode interligar os quatros destinos que se revelam nos três episódios epistolários do pequeno romance? Que seja talvez a arma de caça, ou a tristeza, e não o amor, o fio que emerge atrás do título, o romance de uma outra história com sabor policial tenso, assinado por Yasushi Inoue?


Ao longo da primeira parte, que contem as cartas da menina Shoko, se constrói o drama de um destino imerso na solidão. Não falamos da miúda marcada pelo divórcio violento e inesperado dos pais, mas do homem, central no romance, Misugi Yosuke, cuja história se revela de três pontos de vista: o da filha da sua amante, o da sua esposa, e o da sua amante.


O amor se introduz com ódio. Também ódio se emana na maneira de se expressar, sempre referindo-se ao amor como uma espécie de crime contra o humano.


A carta de Midori, a esposa, é cruel, pseudo-frívola, e de um distanciamento sempre alterado pelo fracasso de uma carne jovem, cuja história de amor significou uma perpétua busca em tantos outros corpos de sexo oposto, que tentam recompor o do marido. Sempre buscando a dominação visual física, mas antes de tudo a inteligência severa de uns olhos humanizados pelo amor, ela pede o seu direito à única coisa que lhe restou: a necessidade de tentar seguir a frente através das mesmas buscas. O divórcio de um marido que nunca lhe mostrou amor, e de que agora, através da morte da sua amante, no mesmo tempo amada prima dela, encontrou o tal gatilho actuador para o pedir.


A poesia da primeira parte, que representa, ao mesmo tempo, a introdução autoral no assunto, transpassa todo o livro. É a base sobre a qual se constrói gradualmente o personagem masculino. A partir de ali, a poesia em si é transposta nos factos enfatizados com tanto subjectivismo e tristeza criadora, quase romântica, nas cartas das três mulheres da sua vida. O silêncio e o frio de dentro e de fora, que o autor do poema conseguiu captar tão simples e lúcido, é o momento em que Misugi relembra, já assumindo o próprio destino, os último 13 anos da sua vida. Um poema conduzido a posteriori a tantas cartas de feminino desespero.


A sombra que se destaca ao longo do romance parece se construir de facto dos corpos das personagens, já mortas e residindo, por acaso, nas próprias vidas. Estas figuras inusitadas são conduzidas adiante como reacção às acções das outras personagens, como um acto cíclico vicioso, da incapacidade de intervenção indeterminada no próprio destino.

Amar/ Ser amado. Querias amar ou querias ser amada? As perguntas centrais do livro e da vida da amante Saiko, mas que determinam a vida de todos os outros, se revelam apenas no final do romance, levando a carga do To Be or Not to Be Shakespeare-iano.




Em perpetuas madrugadas
De reencontros em dois
O zumbido dos silêncios…



Iolanda Vasile

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