3.6.10

Espiral de Koji Suzuki

Ring é uma trilogia de livros da autoria de Koji Suzuki e é composto por Ring ("Ring", 1991), Rasen ("Espiral", 1995) e Rupu ("Loop", 1998). Estes livros foram rapidamente best-sellers no Japão e, logo, a sua adaptação ao cinema foi bastante imediata.

O filme The Ring – O Aviso teve uma grande aceitação da parte do público em geral. Aceitação essa que surpreendeu editores e realizadores que sustentaram uma boa história com um orçamento bastante reduzido. O filme chegou não só aos asiáticos já acostumados ao terror japonês como até aos europeus e americanos, tornando-se assim num dos grandes ícones de exemplo de exportação cinematográfica do Japão. O cinema de terror japonês é conhecido pela sua peculiaridade que o distingue do estilo americano uma vez que se sustenta mais num assombro lento e surreal do que num susto violento e inesperado.


Em Portugal, os livros estão editados pela Civilização Editora e proporcionam uma leitura leve e entretenimento para quem tiver curiosidade em conhecer os detalhes da história. A leitura conferirá uma sensação que em nada é comparável à da visualização do filme e afirmo-o sem querer realçar nenhum dos formatos porque ambos se propõem a fazer coisas diferentes. O filme é mais sensorial na medida em que se configura de modo a criar efeitos visuais e sonoros que causarão o terror. Os livros são mais descritivos, centram-se nos detalhes da narrativa, uma vez que pretendem criar uma ficção cientifica distópica, baseando-se numa realidade em que um vírus, enquanto organismo que se produz do nada, se tenta reproduzir como se tivesse vontade e intencionalidade própria de modo a manipular a espécie humana e dar origem a uma nova linhagem de seres. Portanto, para quem se questiona se vale a pena ler os livros quando já se viu o filme, a minha reposta é que sim, já que vão encontrar uma história muito mais detalhada e densa e mais justificada do que no filme. 



O segundo livro “Espiral” retoma o ponto em que o “Ring” tinha ficado. Prossegue com a história de Asakawa, o jornalista que começa a investigar o caso dos quatro jovens que morreram simultaneamente em Tóquio vítimas de paragem cardíaca e descobre que estes viram juntos uma cassete de vídeo, uma semana antes de morrerem. Para além de Asakawa, também o seu melhor amigo Ryuji é ponto inicial do segundo livro da trilogia, pois é precisamente o cirurgião, Ando, que lhe vai fazer a autópsia e que retoma as investigações do Ring.

Tratando-se de um género que conjuga o policial com o fantástico e o terror, desvendar detalhes da acção retiraria parte importante do prazer da leitura portanto limitar-me-ei a referir que é uma leitura agradável, não muito profunda tendo, contudo, pontos de reflexão de ética científica muito interessantes.
Para dar um exemplo do tipo de mensagem reflexiva latente, transcrevo um excerto da fala de uma personagem, o cirurgião colega de Ando, na qual se pode ver o questionamento da soberania da ciência na sociedade contemporânea:

“A ciência moderna não consegue encontrar resposta para nenhuma das questões mais básicas. Como é que apareceu a vida na Terra? Como funciona a evolução? Será ela uma série de acontecimentos ao acaso, ou terá uma direcção teológica já estabelecida? Existem todos os tipos de teorias, mas ainda não fomos capazes de provar nenhuma delas. A estrutura do átomo não é uma miniatura do Sistema Solar, é algo muito mais difícil de apreender, repleto do que se poderia designar por energia latente. E, quando tentamos observar o mundo subatómico, verificamos que a mente do observador entra em acção de formas subtis. A mente, meu amigo! A mesmíssima mente que, desde Descartes, os proponentes da visão mecanicista do Universo consideraram sempre estar subordinada ao corpo-máquina. E agora chegamos à conclusão de que a mente influencia os resultados observados. Por isso, desisto. Nada me surpreende. Estou preparado para aceitar qualquer coisa que aconteça neste mundo. Na verdade, quase sinto inveja daqueles que ainda conseguem acreditar na omnipotência da ciência moderna.”

Sara F. Costa

4 comments:

Wander Shirukaya said...

Gostei do que vi; ao trecho mostrado é bastante instigante. Que eu saiba não tem lançamento aqui pelo Brasil. Espero que algum dia isso aconteça.

Zaratustra said...

Sara:

A ciência moderna não consegue explicar os grandes mistérios da vida enquanto não começar a explorar o universo da espiritualidade. Se eles partissem do princípio que todo o universo é composto por energia, como defendiam os filósofos Vedas na Índia, ou os mentalistas modernos e os teósofos, a sua visão seria muito mais ampla e clara do que a de agora.

Gostei do teu post. Continua!

Beijos!

TIAGO MOITA

Carlos Vinagre said...

Olá Sara. Estou a desenvolver um trabalho para uma revista brasileira. Gostaria de falar contigo. O assunto: poético. Peço-te, caso tenhas interesse, que me contactes para carlos.filipe.vinagre@gmail.com . Explicar-te-ei qual é o projecto.

Cumprimentos e fico aguardando contacto.

Rita Santos said...

Fiquei com curiosidade em conhecer a história original. Não consigo é encontrar o terceiro volume editado em português. Talvez opte por ler a tradução Inglesa...