4.4.11

Lua-de-Mel de Banana Yoshimoto


Este livro retrata uma bela história de amor entre dois jovens que foram criados juntos – Manaka e Hiroshi (eram vizinhos), tornaram-se cúmplices, confidentes e casam-se com apenas 18 anos. O seu amor foi construído sobre um passado em comum, mas as suas personalidades são muito diferentes. Manaka sempre foi amada e protegida pelo pai, pela madrasta e pela sua mãe que vive em Brisbane – Austrália, enquanto que Hiroshi foi abandonado pelos pais e criado por um avô cuja saúde débil fez com que Hiroshi se sentisse permanentemente em pânico perante a hipótese de não estar com ele quando este viesse a falecer. Este constante peso sobre os seus ombros fez com que Hiroshi se tornasse num jovem tímido, reservado e assombrado por sentimentos totalmente contrários aos sentidos durante a chamada idade da adolescência.
Quando Manaka entrou pela primeira vez na casa de Hiroshi, viu que num quarto se encontrava um altar terrivelmente sinistro, sobre o altar estavam muitos objectos: velas, ossos, pinturas estranhas, imagens de divindades malignas e assustadoras, entre outros, que eram da mãe e do pai de Hiroshi.
Sozinho, após a morte do avô, Hiroshi começa a arrumar as coisas que seu avô o deixara, e todos os dias a noite ía dormir com Manaka. Manaka, cansada de ver o seu parceiro com aquele ar triste e de o ver a arrumar aquela casa sozinho, decide ir ajuda-lo e acaba por ficar a dormir naquela casa.

Certo dia, Hiroshi diz a Manaka que esta não precisava de ir mais aquela casa porque ele tinha que fazer uma coisa chata: tirar o altar de lá! À medida que limpavam o altar, deparavam-se com muitas coisas estranhas: garrafas com líquidos turvos, estatuetas, uma espécie de sutras escritos em caracteres indecifráveis, roupa impregnada de algo que parecia sangue, entre outros; no entanto, encontraram um pequeno vaso, envolvido num tecido rosa, que se encontrava escondido na parte mais interior do altar. Desse vaso saiu “um objecto mal cheiroso, embrulhado numa gaze embebida de sangue – era um osso humano. Hiroshi, espantado, disse a Manaka para não o deitar fora porque aquele osso poderia ser de seu irmão, e os dois concordaram em enterrar aquele osso debaixo da cameleira1, no jardim de Manaka.

Na noite em que finalmente a casa ficou completamente limpa, tanto Manaka como Hiroshi não conseguiam dormir, e foi aí que Hiroshi disse a Manaka que o pai dele tinha morrido. Manaka, surpreendida, perguntou-lhe porque é que não se fez funeral, Hiroshi respondeu-lhe que foi um suicídio em grupo, em nome da sua religião, tomaram veneno e depois incendiaram a casa para não deixarem vestígios, Manaka ao saber disto, tinha constantemente pesadelos, em que Hiroshi morria.

No dia seguinte, Hiroshi acordou e fez uma proposta a Manaka: fazer uma segunda lua-de-mel, a madrasta de Manaka aconselhou-os a irem para Austrália, ter com a verdadeira mãe de Manaka. Esta, para ganhar dinheiro, começou a trabalhar em part-time num supermercado do seu bairro e à noite ajudava a sua madrasta nas traduções.
Enquanto esperavam pela mãe de Manaka no aeroporto de Brisbane – Austrália, Manaka decidiu contar a Hiroshi coisas sobre a sua mãe verdadeira. Quando a mãe dela chegou ao aeroporto, Manaka teve uma grande surpresa ao descobrir que sua mãe se encontrava grávida, mas também ficou contente porque aquela criança tem o seu próprio sangue e que seguramente será bonita. Foram para casa da mãe de Manaka, onde adormeceram, quando Manaka acordou, Hiroshi estava a olhar fixamente para ela e contou-lhe uma visão que tivera: vira-a em pé, debaixo da cameleira, com os joelhos sujos de lama, grávida.

No dia seguinte, foram para um jardim zoológico, e no final do dia encontraram-se com a mãe de Manaka num restaurante e Hiroshi, sem hesitação nenhuma perguntou à mãe de Manaka porque é que quando se foi embora, não levou a filha consigo. A mãe de Manaka contou-lhes a história e no final, tanto Hiroshi como Manaka ficaram comovidos.
No dia seguinte, decidiram ir dar um passeio, e Hiroshi perguntou a Manaka com o que é que ela sonhou; depois de saber o “conteúdo do sonho” de Manaka, Hiroshi diz-lhe que o seu sonho aproxima-se muito da realidade e revelou-lhe o porquê da seita do seu pai se terem suicidado em conjunto: o chefe daquela seita era uma mulher e o pai dele era um dos dirigentes, a fundadora e os dirigentes, em dias estabelecidos, deviam conceber uma criança e, uma vez nascida, deixavam-na morrer à fome e, como acreditavam que ela tinha dentro de si uma força especial, comiam-na todos juntos. Hiroshi viveu sempre com receio de ser chamado por aquela seita. Enquanto que ele comia alegremente na sua casa, muitas crianças do seu próprio sangue eram mortas por pessoas com o coração doente, foi por isso que ele quis enterrar aquele osso, em honra dos seus irmãos que morreram. Manaka, depois de ouvir aquela história, ficou muito contente pelo facto de Hiroshi ter conseguido escapar ao destino de um nascimento tão terrível.

Esta partilha de memórias por parte de Hiroshi unificou-os ainda mais. Deram-se conta que a sua existência, apesar de simplória, não era, enfim, má. Fazem, a partir deste momento, planos para o futuro: comprar um cão, dormir na mesma cama, fazer um filho. Terem por fim, uma vida normal.

Nota: A Cameleira é uma árvore de origem asiática, da família das Cameliáceas, muito cultivada em Portugal pela beleza das suas flores (camélias), também denominada japoneira e camélia.


Quando acabei de ler a Lua-de-Mel, senti-me um pouco alheia aquele mundo estranho. No entanto, gostei bastante, talvez por essa mesma diferença. É um romance diferente dos outros, com uma história de amor que não segue as normas do romance ocidental e actual. É um amor não-piegas, ainda que ambos concordem que não conseguem viver um sem o outro – um amor puro, ingénuo, que parte da apreciação mútua de pequenas coisas da vida, como coalas, golfinhos, estrelas, a noite. Esta é uma peculiaridade muito própria dos orientais, nomeadamente dos japoneses – um povo “estranho”, porém simples e minimalista.
Este romance acaba por ser surreal. Como por exemplo: não é todos os dias que se descobre que o pai do parceiro é membro de uma seita macabra.

Maria Antonia Miranda

3 comments:

Maria Antonia Miranda said...

Ahhh Que giro! *.* Um trabalho meu publicado num blogue :3
Eu peço imensa desculpa, mas eu esqueci me de referir no resumo a cadela de Manaka - Charlie, era como uma irmão para Manaka. Infelizmente, devido à velhice, morreu, e foi enterrada na Cameleira no jardim de Manaka!
Devido à extensão do resumo, achei melhor nao falar da Charlie, mas aconselho-vos vivamente a lerem esta obra! É magnifica! *.*

Sara F. Costa said...

Olá, Maria! Fica a sugestão. Ainda não li (da Yoshimoto só li o "kitchen" e "Adeus, Tsugumi") mas fiquei curiosa. Vai colaborando! Abraço

Maria Antonia Miranda said...

Hmmm, eu vou ler "Arco-Iris", e depois tenho que ler "Adeus, Tsugumi" e "A Ultima amante de Hachiko" !
E também quero ler alguns do Murakami, mas acho que ele vai ficar para as férias de Verão! :)

Sim, eu vou colaborando, mas agora é-me impossivel :x ^^ Adoro o blogue! Tantos livros que quero ler que vi aqui! [ O "Serpentes e Piercings" parece ser muito interessante! *.* ]