Quando Kawabata foi eleito Prémio Nobel em 1968, “Kyoto” foi um dos três romances especificamente mencionados pelo comité organizador do certame. Foi o último livro de Kawabata antes de falecer e é uma obra emblemática, amplamente divulgada no mundo anglo-saxónico como uma das primeiras a despertar interesse académico pelos romances japoneses do pós-guerra.
Deixaria um apontamento inicial relativo ao título do livro. O título original é koto (古都), que se poderia traduzir por “antiga capital”, no entanto, como este título é uma clara alusão à cidade de Kyoto (京都), muitas traduções do livro decidiram optar por colocar o nome “Kyoto” como título. Foi o caso da D. Quixote em Portugal, numa reedição do livro, uma vez que este já tinha sido publicado em 1969, possivelmente devido ao galardão de Kawabata em 68. Não temos referências da versão através da qual foi traduzido. A maioria das edições inglesas podem ser encontradas com o título “The Old Capital”. A questão do título é uma pequena nuance, mas claro que há um jogo intencional de palavras que acaba por se perder.
O resumo da narrativa é breve.
O romance desenvolve-se em torno de Chieko, de vinte anos, filha de Shige, um estilista de quimonos e obis que mantém um pequeno negócio na parte tradicional de Kyoto. Durante muitos anos, Chieko suspeitou ser uma filha adoptiva e acaba por confirmar isso quando encontra Naeko a rezar no templo de Yasaka. Naeko revela parecenças físicas demasiado evidentes, levando Chieko a crer que esta habitante das florestas do norte em Kitayama pudesse ser uma possível irmã biológica. Entretanto, Chieko teria pedido a Hideo, um tecedeiro, que lhe preparasse um obi específico, com motivos de vanguarda para os valores tradicionais japoneses, inspirado em Kandinsky e outros artistas europeus contemporâneos.
O romance desenvolve-se em torno de Chieko, de vinte anos, filha de Shige, um estilista de quimonos e obis que mantém um pequeno negócio na parte tradicional de Kyoto. Durante muitos anos, Chieko suspeitou ser uma filha adoptiva e acaba por confirmar isso quando encontra Naeko a rezar no templo de Yasaka. Naeko revela parecenças físicas demasiado evidentes, levando Chieko a crer que esta habitante das florestas do norte em Kitayama pudesse ser uma possível irmã biológica. Entretanto, Chieko teria pedido a Hideo, um tecedeiro, que lhe preparasse um obi específico, com motivos de vanguarda para os valores tradicionais japoneses, inspirado em Kandinsky e outros artistas europeus contemporâneos.
Os aspectos principais a reter da ambiência tradicional típica dos livros de Kawabata têm a ver com um confronto de valores, do facto dos personagens se dedicarem a algo que apesar de nobre, parece começar a perder o seu sentido devido às forças sociais que se instalam e que são incontroláveis, às quais nos temos simplesmente que adaptar. Este sentimento ultrapassa a mera reflexão do fabrico de quimonos no Japão contemporâneo porque os livros de Kawabata acabam por ter esta repercussão filosófica que se apropria do campo genérico da existência. Quando a noção de vanguardismo e de existência antecipada ao seu tempo é algo que se tornou compreensão comum para qualquer pessoa que reflecte sobre a arte, a noção de resguardar a nobreza do passado arrisca-se a ter uma conotação retrógrada devido ao facto de se estabelecer por convenções demasiado clássicas. Contudo, o que é visível na perspectiva do autor é que esse classicismo não tem que ser desadequado desde que seja aclamado por uma manifesta pureza. Chieko percorre o seu passado em retalhos de memórias e de suposições com um forte sentido familiar quase ultrapassado, tentando contudo contrabalançar um sentimento adolescente de revolta com um forte sentido de responsabilidade de alguém que sempre se dedicou à nobreza da tecelagem. Mas os motivos de árvores nos quimonos que antes simbolizavam a essência da natureza, hoje são temas repetitivos sem valor artístico.
O livro deixa uma sensação ténue de valor nacionalista que se manifesta por uma clara insinuação de aculturação durante o período pós-guerra, mas, para sermos honestos, que obra tipicamente japonesa não o faz? Contudo, estas ideias não são explícitas e portanto estas questões estão longe de serem panfletárias, que é o mais relevante para a consideração artística.
É uma abordagem muito típica de Kawabata mas muita da literatura emblemática japonesa se compõe destes alicerces que são tão diferentes dos paradigmas da nossa literatura. Os livros não são compostos por dramas complexos, nem por pensamentos extremamente intrincados nas suas abordagens intelectuais, na nossa concepção ocidental do termo. No entanto, um livro como este é para ser lido para um estrangeiro como uma viagem solitária por um país com uma religião que não é a nossa e que estamos longe de compreender, com rituais que nos são estranhos, com uma explicação específica sobre o fabrico de peças tradicionais de roupa de uma cultura que não é a nossa. Não é uma viagem divertida porque é uma viagem ao coração dos habitantes de um sítio que mudou os seus propósitos do dia para a noite e que deixou um vazio muito grande por preencher, mas é certamente uma viagem bastante pura à essência da cultura japonesa.
Sara F. Costa
1 comment:
Olá, estudo Japonês na USP e queria conhecer melhor a literatura infantil japonesa. Quais são os escritores mais conhecidos e a melhores obras deste tipo de literatura?
Obrigada
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