5.12.06

Mitologia Japonesa - Tradução do Kojiki

Como tinha prometido, deixo aqui a tradução efectuada do Kojiki (visto não existir em português) a partir do francês. Traduzir o Kojiki, esse considerado "livro nacional, guia do povo, jóia literária do Japão" está a ser bastante interessante pois estou a absorver a noção de criação do universo da mitologia japonesa que é uma mitologia bastante curiosa. Deixo-vos com o primeiro capítulo esperando poder traduzir os restantes.



Capítulo 1
Céu e terra não correspondiam a mais do que um. Tudo se resumia a uma massa disforme, que não abrigava vida e que flutuava no espaço como o faria uma alforreca no oceano. Com o tempo, a parte considerada como pura separou-se e veio a formar o céu, o que sobrava uniu-se em baixo numa massa viscosa: a Terra.

Ainda sem forma, o planeta deslocava-se lentamente no ether. Nenhum astro iluminava o céu para alem das longínquas estrelas cintilantes. Os primeiros Kamis (deuses) aparecerem espontaneamente no céu ignorando a sua proveniência.
No início apenas existiam três: Amano Minakanushi no Mikoto ("Augusto Kami do centro do universo" criador da estrela do norte), Takami Musubi no Mikoto (Augusto Kami criador das maravilhas) e Kami Musubi no Mikoto (O kami criador dos tesouros).

Mas as suas existências foram breves e desapareceram sem deixar rasto.
Depois, de um bambu nasceram dois novos kamis que conheceram um destino em todo semelhante aos três primeiros.

Novos Kamis apareceram. Sete casais mais exactamente. Muito depressa, apenas subsistiam seis, assim que os dois primeiros Kamis desapareceram por sua vez. Os casais sobreviventes decidiram instalar-se na via láctea e puseram-se logo ao trabalho, tentando criar um novo universo.

Compostos, ao último casal foi dada a tarefa mais complexa: fixar e dar forma a massa viscosa chamada Terra.

Assim, Izanagi (o macho que recebe) e Izanami (a femea que convida) dirigiram-se para a Terra equipados como uma lança de ouro e de pedras preciosas chamada Ameno Nuboko.

Os dois kamis incarnavam a perfeição física: Izanagi o barbudo de cabelo muito comprido e dotado de uma força admirável. Izanami é a mais bela mulher que se possa ver: traços delicados, seu rosto branco e na sua silhueta a elegância perfeita.
Izanagi mergulha a sua lança na Terra e começa a amassar com força. Mas tirando a sua lança uma grande gota formou uma pequena ilha no limite da agua. (Diz-se que é a ilha de Onogoro).

Os dois kamis surpresos observaram longamente a sua criação:
Seres começam a ocupar a ilha e os dois observam a sua reprodução.
Sendo puros ignoravam tudo acerca da arte do "amor".
Decidiram então acomodar-se na ilha.

Izanami vivia feliz: a sua criação era maravilhosa e ela ria. Izanagi também ria e isso acabou por despertar a atenção dos outros Kamis da via láctea.

Aproximaram-se para ver o que acontecia e encontraram-se com Izanagi e Izanami sentados numa pedra. Como poderia uma simples pedra provocar tanta alegria. Os Kamis perturbados voltaram para seus lugares respectivos.

Izanami ja não via Izanagi da mesma maneira: ela fascinada pela sua beleza, presença e força. Ela pediu-o então em casamento. Ele aceitou sem hesitar.

Tudo poderia ter sido perfeito, mas o nascimento do seu primeiro filho trouxe os primeiros problemas. Esse tinha nascido sob a forma de um horrível verme. Os dois abandonaram a abominação numa barca feita de canas de bambu.
A segunda criança foi igualmente monstruosa.

Decidiram então interrogar os Kamis. Para tal, eles deveriam voltar para o reino implantado na via láctea: Takamanohara.

O casal mais antigo explicou-lhe que o seu casamento era a fonte de infelicidade: Com efeito, apenas Izanagi podia pedir em casamento a deusa e não o contrario.
Os dois subsistiram então no lugar dos Deuses.

Porém os dois encontravam-se muito infelizes e já não se falavam.
O tempo passou e Izanami recordou a época maravilhosa do início do seu amor.

Ela correu então para regressar a sua pequena ilha. Izanagi viu-a e considerou-a tão bela e radiosa que não tardou a segui-la.

O pequeno pedaço de terra era agora vestido de um luxuoso manto de verdura. Izanagi sentia-se renascer do seu amor reencontrado e pediu Izanami em casamento.
Fez-lhe um grande sorriso e os dois voltaram a casar.

A maldição foi levantada. Os seus primeiros filhos foram primeiro ilhas: A primeira Awaji, a segunda Shikoku, Oki, Kyûshû, Tsuhima, Honshû e Hokkaido. Seis novas ilhas nasceram a seguir, seguidas por mais de 3000 pequenas ilhas.
Foi assim que nasceu o Japão chamado na altura Wakoku.



Matthieu Rego

6 comments:

Sara F. Costa said...

Pois, realmente a mitologia é curiosa. Tal como comentaste comigo o espaço é pouco definido - ao contrário da maior parte das mitologias ocidentais, onde o espaço é claro, num olimpo transcendente. Bom trabalho. Espero que continues.

Sunna said...

Adorei, muito bom mesmo :)

Shadow Moses said...

Realmente interessante ^^. Eu havia achado em inglês mas era escrito num inglês mais difícil. Espero que continue traduzindo o Kojiki =D.

pedro manuel magalhães de andrade said...

há mais? :)
kudos

Anonymous said...

Bom, eu também considero a cultura japonesa uma das mais interessantes, realmente a imaginaçao humana supera muitas fronteiras mesmo antigamente, e é interessante como eles relacionam a criaçao do universo como a criaçao de almas, vindo da falta de existência em sí, confuso não? Mas nao deixa de ser curioso e muito interessante, espero pelos volumes seguintes, e quero saber se existem traduçoes em inglês, se tiver, eu quero pedir que por favor me passem o link dessa traduçao.

Anonymous said...

Bom, eu também considero a cultura japonesa uma das mais interessantes, realmente a imaginaçao humana supera muitas fronteiras mesmo antigamente, e é interessante como eles relacionam a criaçao do universo como a criaçao de almas, vindo da falta de existência em sí, confuso não? Mas nao deixa de ser curioso e muito interessante, espero pelos volumes seguintes, e quero saber se existem traduçoes em inglês, se tiver, eu quero pedir que por favor me passem o link dessa traduçao.