30.7.09

Biografias: Kenzaburō Ōe (大江 健三郎)


Kenzaburo Oe (大江 健三郎,) nasceu a 31 de Janeiro de 1935, na ilha de Shikoku 四国, a ilha a sul de Honshu本州. Entrou para a Universidade de Tóquio aos dezoito anos, especializando-se em literatura francesa e dedicando-se a dissertações literárias sobre Jean-Paul Sartre. Enquanto estudante publicou artigos com análises literárias e pequenos contos em jornais e revistas. Casou-se em 1960 com a irmã de um conhecido realizador japonês (Juzo Itami).
O autor ficou mundialmente célebre a partir de 1994 com a atribuição do tão aclamado e mediático Nobel da Literatura, mas antes de tão conceituada consagração, as suas visões pacifistas relativas ao artigo 9 da constituição japonesa de 1947 (no qual o Japão é obrigado a renunciar ao mantimento de força militar para fins de disputa internacional), já causavam alguma polémica.
A temática relativa ao processo de constitucionalização do Japão é algo que o inspira e promove a reflexão e isso é visível em alguns trabalhos sobretudo do início da década de sessenta nos quais Oe utiliza metáforas de teor explicitamente sexual para caracterizar a posição submissa do Japão perante a potência que representaram os EUA, através da qual o Japão é um amante que se deixa violar, sem personalidade ou densidade psicológica, traindo na contemporaneidade os valores ancestrais do país. Este conteúdo é visível em contos como 性的人間 “O homem do sexo”, 空の怪物アグイー “Aguii, o monstro do céu”.
Hoje em dia o autor vive em Tóquio e tem três filhos sendo que o mais velho nasceu com graves perturbações cerebrais. Este factor biográfico vai interferir largamente no trabalho do autor. Dos livros editados em Portugal, dois dos livros são representativos da atitude activista que a partir daí o autor adoptou de perspectivar a experiência empírica de um deficiente e de sensibilizar a sociedade para as suas condições: Dias Tranquilos (Difel, 1995), Não matem o bebé (Civilização, 1994). Outro é Um Eco do Céu (Difel, 1997), de teor existencialista.
Sendo um dos autores mais emblemáticos da actualidade japonesa no mesmo leque de referências de Kawabata ou Mishima, não se compreende o porquê do reduzido número de traduções fora do Japão.
Numa altura em que o Japão atravessa uma metamorfose política relevante com a saída iminente do LDP (自由民主党, Jiyū-Minshutō) depois de quase meio século de predomínio, o Japão terá de repensar-se e reinventar-se politicamente.
Assim sendo, este deve ser considerado um dos mestres da expressão contemporânea japonesa que tenta analisar a actual condição política e social do Japão com a devida complexidade, apelando ao desvio da alienação e à reflexão crítica.


Referências:
Ōe, Kanzaburō. (1968). Ōe Kenzaburō Zensakuhin (Complete Works of Oe Kenzaburo).Tokyo:
Shinchosha.
_____________. (1978). Shosetsu no hoho (The Method of a Novel). Tokyo:
Iwanami.
Wilson, Michiko N. (1986).
The Marginal World of Ōe Kenzaburō: A Study in Themes and Techniques. Armonk, New York: M. E. Sharpe. 13-ISBN 978-0-87332-343-7 (cloth) -- 13-ISBN 978-1-56324-580-0 (paper)
http://nobelprize.org/nobel_prizes/literature/articles/oe/index.html

Sara F. Costa

4 comments:

Anonymous said...

Li o "Dias Tranquilos" é um livro bastante forte em conteúdo

Sara F. Costa said...

Vou reconsiderar.

Mas porque não escreves um artigo? É uma forma de legitimar a tua estadia como membro.

O Bungaku! vai ter um FAQ em breve!

Anonymous said...

Eu nao escrevo um artigo porque, basicamente, só leio revistas portuguesas de tiragem semanal com titulos tao originais como o dia em que saem, o sentido necessário para as ler e a disposição em que temos de estar pra aprender algo com elas lol. Isso e umas quantas BDs de vez em quando com personagens esquesitas e esquisofrénicas. A literatura em geral não é o meu forte (como ficou demonstrado com o meu excelente "estupideza" no coment anterior).

Btw eu estava obviamente a brincar, tal como disse. Nao é preciso voltar a pôr o meu nome no blog, até porque tambem reparei que nao fui o unico excluido.

Mas sim, ficou, quase sem querer, a sugestão de uma secçao faq/about.

Sara F. Costa said...

Sim, vai ter um FAQ. Já ando para fazer isso há algum tempo mas ainda não tive tempo para isso. Sempre que alguém começa a colaborar, eu digo quais são as normas, é mais pessoal e interessante, de qualquer forma chegará certamente a ter.