A utilização dos diários nos romances permite aos personagens comunicarem os seus sentimentos e desejos mais explícitos uns aos outros.
Em "A Chave" é-nos relatado a interacção sexual de quatro personagens: um casal, sua filha adolescente Toshiko e um amigo da família Kimura e para isso o autor usa o cruzamento de dois diários que são escritos ao longo de alguns meses - o do marido e o da mulher para nos contarem os seus segredos mais íntimos apesar de não encontrarmos situações explícitas, picantes ou explosivas, embora cada um finja que não o lê.
A família está constantemente a criar jogos psicológicos entre eles, resultando toda esta situação num relacionamento extremamente disfuncional.
"A Chave" também nos conta a história de um crime, um dos mais originais já cometidos na literatura. Insatisfeito com o desempenho sexual de Ikuko (a sua mulher), o marido empurra-a para junto do seu colega de trabalho e amigo Kimura, para alimentar o próprio ciúme e alimentar a paixão, numa sequência de simulações e subentendidos em que a filha também terá um papel relevante.
Trata-se de uma luta consentida por todos, um jogo de xadrez sexual que revela em cada uma das suas jogadas no desejo de escapar a um mundo congelado de repressão, hierarquia e incomunicabilidade, tudo isso no limiar tenso da invasão da cultural americana. O romance "A Chave", do japonês Junichiro Tanizaki (1886-1965), considerado um dos maiores, senão o maior, romancista japonês, e é um escritor praticamente desconhecido em Portugal mas popular no seu país.
Como nota de curiosidade, o romance de Junichiro Tanizaki foi adaptado para cinema em 1983 pelo realizador italiano Tinto Brass.
"A Chave” (Kagi, no título original) editado em Potugal pela Teorema é um romance altamente sensual, erótico e que consegue capturar a interacção dos dois lados da medalha o masculio/feminino. É uma amostra admirável do potencial de um diário e da ambiguidade que este suporte permite.
Sem dúvida um livro a ler!
Fernando Ferreira
1 comment:
Ora aí está um dos maiores escritores do Século XX que, injustamente, permanece envolto num relativa obscuridade em Portugal (pelo menos tanto quanto me lembro, pouquíssima gente interessada em literatura Nipónica ou Oriental com quem eu tenha conversado nos últimos 10 anos conhecia a soberba obra de Tanizaki).
Recomendo vivamente, entre outros, do mesmo autor "A História Secreta Do Senhor De Musashi" (武州公秘話 - "Bushuko Hiwa", no original) - um livro absolutamente genial, que eu adoraria ver adpatado ao cinema.
NOTA: "A História Secreta..." não tem rigorosamente nada que ver com a famosa personagem da História do Japão e dos contos de Samurais, Miyamoto Musashi - não confundir - a temática é outra...
Os meus sinceros Parabéns aos criadores deste webblog. belíssima niciativa. Muito Obrigado.
L.F. Afonso, Fukuoka, Japão
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