Editora:
Civilização (1987; Edição Portuguesa de 2005)
Sinopse: O
livro não apresenta sinopse, mas na capa e contra-capa tem duas frases:
- "Altamente
recomendado. Uma história de fantasmas cerebral e perturbadora que me
induziu completamente em erro.", de David
Mitchell
- "Uma
arrepiante história de fantasmas escrita com hipnótica clareza: de ritmo
rápido, inteligente e assombrosa, com passagens de uma intensa percepção
das relações entre pais e filhos, o que torna tão comovente este
fascinante livro.", de Bret Easton Ellis, Autor de
Psicopata Americano
Opinião:
Taichi Yamada é um autor japonês que já conhecia, porque já li outro livro dele e
gostei bastante. Ele escreve sobre morte, fantasmas e suicídios, de acordo com
a cultura japonesa, temas que me interessam muito. Novamente, a escrita do
autor não desiludiu, é feita de forma suave, fluída e concisa, incorporando
aspectos da cultura japonesa com o desenrolar da acção e um pouco de terror.
A história desenrola-se à volta de Hideo, contada na 1ª
pessoa. Trata-se de um homem de meia-idade, recentemente divorciado , guionista
de séries de TV, com uma posição economicamente confortável e que mora sozinho,
apesar de ter um filho. O sua relação e o seu divórcio não correram da melhor
forma e o relação actual com o seu filho é bastante distante. O seu próprio
passado foi difícil, visto que ficou órfão aos 12 anos, após um acidente que
matou os seus pais.
Além de toda a escrita introspectiva e virada para os
pequenos pormenores, como é bastante típico da cultura japonesa, as descrições
não são maçudas nem lentas, tudo se desenrola a um ritmo assombroso. Hideo fala-nos
do seu dia-a-dia, da sua vida de casado, das suas amizades e de uma mulher, a
Kei, que mora no seu prédio e conhece recentemente. Fala-nos também da sua ida
à aldeia natal, onde no meio de uma viagem nostálgica pelas ruas e edifícios da
aldeia conhece um casal bastante curioso! É aqui que começa a escrita de
terror, pertubadora. De uma forma muito simples e cuidada, Hideo descreve os
acontecimentos e as interacções que tem com esse casal e como isso o perturba (a
ele e a nós!!). Após as suas repetidas viagens à sua aldeia natal, vê-se
confrontado com uma realidade surreal, que não entende, mas que o conforta e o
faz reflectir sobre a sua vida actual. No entanto, estas viagens trazem
consequências graves, que o afectam, apesar de ao início ele próprio não se
aperceber do que está a acontecer. É Kei que insiste que ele não está bem e que
deverá desistir das idas à aldeia.
"Neste ponto da
história, a minha empatia por Hideo era enorme. Ao ler a história apercebi-me
que o que lhe aconteceu era algo que eu gostaria que me acontecesse a mim
também, por muito más que as consequências fossem e assim, tornou-se uma
leitura muito nostálgica, a nível pessoal."
Inevitavelmente, após o finalizar das idas à sua aldeia, a
acção decorre, aparentemente sem surpresas e então o twist final
acontece! Eu não estava NADA à espera disto! Apesar de ter havido uma
espécie de premonição no início, fiquei completamente estupefacta e com um
misto de terror tive algum receio de ler e curiosidade ao mesmo tempo (sabem
aquela sensação quando lêem um thriller e querem saber tudo e ao mesmo tempo
não querem?!! Pois, era isso!). O final, à boa moda japonesa, é fantástico!
Deixa espaço para reflexões sobre coisas tão comuns e importantes como relações
entre pais e filhos, morte e o além-morte. Há todo um tabu antigo na cultura
japonesa que vai contra o estar em comunhão com os mortos e isso está muito bem
descrito e explorado no livro. Mesmo assim, quem não gostaria que lhe
acontecesse o mesmo que aconteceu ao Hideo? Eu de certeza não me importaria de
ter uma experiência semelhante!
É uma história linda, que emociona e nos faz reflectir sobre
a vida.
Cristina Gaspar
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